Autor do livro “Minha vida comum: ensaios sobre quatro deficientes mentais” (2012)
Trecho do livro-reportagem "Minha vida comum":
Dentro da
mochila um bloco de notas, um gravador, uma
máquina
fotográfica e alguns preconceitos. A identidade na carteira,
o dinheiro do
ônibus separado, o celular carregado, as janelas
fechadas. Era
um sábado com cara de chuva. O jovem que estava
prestes a
conhecer me fez lembrar de um poema sobre alguém que
tenta
atravessar uma ponte esperando encontrar luz do outro lado,
além da
neblina, através da escuridão, mas ao atravessar a ponte,
não há ninguém
do outro lado.
Um dia antes, por telefone, perguntei
para o pai dele:
- O Rafael consegue se comunicar?
- Não. – foi a resposta taxativa, seca,
sincera. – É impossível.
Dizer que Rafael tem 17 anos e quase
sempre está sorrindo é muito pouco para apresentá-lo.
Rafael é
autista. É hiperativo. É esquizofrênico.
Ele é um jovem que não consegue
interagir. Apenas seus
pais, da
melhor forma que podem, entendem quando o filho está
bem ou não. Os
medos e desejos do Rafael não costumam se manifestar
por meio da
expressão facial, seja o sorriso ou a lágrima.
Das variações existentes no grau do
autismo, Rafael é um autista
do tipo grave.
Rafael não sabe quem é ele. Só foi se
reconhecer no espelho
depois dos 12
anos. Rafael se alegra com sua própria festa de aniversário,
mas não sabe o que é aniversário, não sabe que está ficando
mais velho,
não sabe o que é tempo. Rafael não sabe o que é dia.
Não sabe o que
é noite. Não sabe o que é Deus, não sabe o que é
vida, o que é
morte. Não sabe o que é “em cima”, não sabe o que
é “embaixo”.
Não sabe o que é dentro, não sabe o que é fora. Não
sabe o que é
direita, o que é esquerda. Não sabe o que são números,
cores, palavras, não sabe!
(Diego
Gianni, “Minha vida comum”, 1º capítulo, p. 12 e 13).
Gostaria de comprar esse livro “Dores crônicas que nem te conto”, onda posso encontrar?
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